Respeito e medo se confundiam com as vozes em tom tão grave, os olhos vigiavam cada passo nosso nas trilhas falsas que tomávamos sem nos perceber da gravidade, o que nos rendeu memórias de verões sem fim nas velhas casas com janelas barulhentas que abríamos com muito zelo pra escapar durante a noite.
Crescendo dia a dia e foi assim que a vida foi nos levando, até chegar naquele abril e tudo parar no tempo de um dezembro vazio, de sonho estranho. Como se aquelas férias ficassem pra trás e a cidade já quase não existisse. Hoje ao fechar os olhos me lembro tão somente da árvore imensa que abrandava o calor e que fazia sombra na casa dela pelas 4 da tarde. Já não os vejo mais, nem na rede e nem nos procurando, a voz já não nos chama e tudo faz bem pouco sentido.
O tempo, embora sempre tão relativo, nos deu chances suficientes pra que víssemos a proteção que eles nos davam, que a vigilância exacerbada era mais uma das muitas formas de amor. Me pergunto sempre se retribuí a todo esse carinho, porque hoje já não dá mais tempo.
Perder seu pai hoje foi como perder o meu de novo, me ver percorrendo em silêncio aquele caminho às cegas que fiz guiada por tua mão e carregando ele na outra. Foi doer mais uma vez minha saudade pensando no tamanho da sua dor que não passa. Foi ver a minha sala e a tua vazias, foi ouvir os ecos que eles deixaram com ordens de "Toma cuidado" e "Não sai sem jantar". Perder seu pai hoje foi como descobrir de novo o quanto deles tem em nós e pedir que eles nos olhem de cima como águias pra sempre.
E agora que eles não estão mais por perto, minha amiga, não dá pra fugir deles que estão em nós. Não dá pra fugir de nós. Essa é a melhor parte deles, a que fica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário