segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Duas Aspirinas

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De ambos os lados o café é forte e as notícias resumidas em cada página virada do jornal.
Ele aperta sem paciência o botão do elevador, dá "bom dia" aos vizinhos estranhos, enquanto ela sai depressa de óculos escuros, andando pela rua como se ninguém mais existisse.





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Sai daqui, some!
Vê se desaparece da minha vida
Leva com você as tralhas
Discos, livros e a viola
Não quero topar com seu maço de cigarros pelo chão
Não quero mais saber da sua t.v. que não funciona
Pega seu caminho e vai!
Leva seu sobrenome e sua foto em preto e branco
E não se esqueça dos óculos de sol,
Senão eu quebro
Não quero mais saber das noites mal dormidas
Não quero mais domingos de edredon
Anda, foge de casa!
Leva o carinho guardado
Leva o sorriso aberto e o abraço contido
Cada palavra não dita,
O orgulho e a preguiça matinal
Quero abrir as janelas pro seu perfume sair
Vou me livrar das suas manias
Vou me salvar do nosso futuro
Leva as discussões que não teremos
Anda, rapaz!
Leva tudo o que for de direito
Carrega pra longe as suas dúvidas
Põe na sua mala a fitinha do Senhor do Bonfim
Muda daqui,
Mas muda pra longe!
Que eu não sou obrigada a te encontrar por aí
Que eu não quero mais te ouvir cantar
Leva seus papéis e o seu livro inacabado
Se deixar pra trás, eu queimo
Todo o resto eu atiro pela sacada
Copos, pratos, mesinha do café da manhã
Sai e fecha a porta!
Corre pra casa da sua mãe
Diz que eu não presto
Diz que eu não sou honesta nas paixões
Conta pra todo mundo que meu jogo é sujo
Bebe até cair, até morrer!
Se apressa, vai
Que eu estou só esperando você ir pra eu poder desabar
Que eu estou mordendo a boca pra não tremer o queixo
Leva a minha dor, meu coração, meu ar
Deixa comigo as lembranças e o cinzeiro
Deixa comigo a culpa da sua falta de amor
Deixa só o que não vai te fazer falta
Me deixa.

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