sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Fôlego

Tomei coragem num "Deus, me guia" e botei a boca no mundo.




Foi olhando o movimento dos carros, do alto da sacada do prédio, que eu notei o quanto o tempo nos leva, dia a dia, pouco a pouco. Aqueles que estavam por um triz já não cruzam mais o mesmo destino, as agendas não se encontram e de repente o fim de semana em casa parece ser o melhor programa. A percepção aumentou com esses últimos meses atômicos, qualquer cheiro de café vem acompanhado de lembrança, qualquer coisa, qualquer canto. Até o chão da casa antiga fez falta de manhã, o mesmo lado da cama e o mesmo sol atrapalhando meu sono diurno.
O real é o que fica ou o que me divide?
E tudo o que via era o real se desmanchando na minha frente, feito tinta, feito a fumaça do meu cigarro. De tudo o que era real, me sobrou algo que me segue e ilumina, mas do que ainda me acompanha sei muito pouco a respeito. Até as ruas que eu conhecia andaram mudando de lugar e nessa cidade já não acho mais nada que me remeta a algum sonho antigo.
Tenho acompanhado minha vida mudar ativamente, entre duas da manhã e três da tarde, no resto do tempo transformo o som dando à tapa outras caras até já batidas, como se fosse cada dia um dia novo. Como enfim deveria ser.
O que é bonito então é tudo aquilo em transição, o corpo itinerante, a passagem de ida, o caos do desencontro, a lua semi-exposta. Toda paixão e todo grito me são belos, toda a desarmonia do amor e cada punho fechado. Onde morar a perfeição eu não piso, porque hoje eu quero quebrar todos o vidros com minha rouquidão absurda, quero ver nascer rosa e manjericão que eu plantei ainda ontem, quero sobretudo que me captem no que eu calo, não porque dói - porque não dói-, mas por eu só me deixar ler por aí.





E logo depois de gritar tudo o que eu realmente pensava, depois de dizer que guardei amor pra não dividir, passou. Passou por mim e por você como neblina, passou assim, como se nunca tivesse existido.

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