sábado, 10 de julho de 2010

Fui comprar cigarro.

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É tão igual e é tão difícil.

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Esses vasos estão vazios, aqui não se cria mais flor, aqui não se rega mais planta, não se faz mais comida e nem se pendura lençóis. Tudo parece mais calmo hoje e mais silecioso, até os passarinhos tiveram um cuidado maior em não cantar perto da janela. Nos corredores é mais visível o abandono, os cachorros estão espalhados pelo quintal, já não se alarmam com os carteiros, guardam desdém pelos pombos roubando-lhes a ração na vasilha. O descaso e a preguiça chegaram aqui.

O frio que anda fazendo durante a noite é só mais uma desculpa pra se deitar mais cedo, pra se demorar mais a levantar; fome quase não há e tem faltado analgésicos pra dor latente, pulsante, absurda, de cabeça. Na pia da cozinha os restos de dias atrás, as roupas estão já tão espalhadas que talvez nem se ache todas as peças, não que se sinta alguma vontade de reuní-las novamente. A música antiga repete e repete e repete na vitrola antiga, já riscou o disco de tanto que falou de amor e desamor, mas continua em rotação, porque hoje algum barulho contínuo faz até que bem.

A falta de vontade tomou conta de tudo, a cidade anda estranha, gente estranha, não tem o que faça abrir essas janelas, não se atende à porta, telefones desligados. É como se tudo fosse acabando devagar, numa constância além dos limites da dor e da fé. E é como se tudo se repetisse: o medo, a falta de chão e de uma mão pra guiar.

E dessa vez, parece que eu fui embora. De mim.

Um comentário:

  1. versos tristes, verdadeiros.
    espelho da nossa alma temporária
    refletida no ambiente decantado e esquecido.
    pode ser este o anteparo que te falta
    pra retomar o caminho.
    mas antes não esqueça de bater a poeira do corpo
    e lavar as mãos e o rosto
    o poeta tem sempre razão...

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