sexta-feira, 16 de julho de 2010

Por todos os armários, nos vestidos, nos remédios...

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Não adiantava, podia até fugir da cidade, sumir de cena, mudar o filme e trocar Chico por Lenine. Ele estava por todos os lados, me cercando com aquelas manias todas, com a organização e barulho. Era só eu me pegar bibliotecando meus livros pra já vê-lo dizendo “Ordem alfabética”, resolvi espalhar todos pela casa, mudar as coisas de lugar, trocar as xícaras. Mas não adiantava.

De um tempo pra cá, passei a achar constante a presença dele enquanto acordava na madrugada pra comer, enquanto lia jornal pela manhã, enquanto abria os armários pra escolher meu vestido. Encontrava ele nos sucrilhos, na Bette Davis, nas fotos em que ele não aparecia e até no gesso do teto. Passei a dar boa noite pro travesseiro e boa tarde pras panelas, enlouqueci completamente.

Foi então que ele apareceu na porta de casa, trazendo uma frigideira colorida e um carregador pro meu celular que vive sem bateria. Disse que me achou percorrendo os corredores do supermercado e na fila do pão, disse também que as óculos-gigante-cinema-iraniano tem superlotado a megalópole, mas que nada voa tão rápido quanto eu. Me chamou de pássaro livre, tomou um chá e foi embora.

Então se passa isso tudo pela cabeça dele enquanto toma café naquele mesmo lugar onde íamos, então se sente falta de algum domingo nublado, então se acorda às 4 da manhã sonhando no meu colo, é certo de que erraremos sempre os mesmos erros. E o mesmo disco vai tocar sempre na vitrola.

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